terça-feira, 23 de outubro de 2012


NÃO EXISTEM SEGREDOS NO CORTIÇO VIRTUAL

         Vielas, estreitíssimas vias, nos aspiram com destino a um nó da Rede. Você, pela concepção grega é o centro do universo, a medida de todas as coisas.  Argonautas saíram em rotas perigosas em busca do velocino de ouro. Navegadores deixaram litoral da Europa e saíram em misteriosa viagem nas caravelas que singravam os mares. Humanos saíram do planeta para experimentar a gravidade exterior. 
Cada trecho de terra, pedaços de continentes, os locais onde houvesse teconologia humana foram adicionados e compartilhados. A rede aumentava e cada nó proporcionava segmentos em diversas direções. O nó matriz possuía acesso incondicional de todas as suas linhas divergentes. Cada nó secundário se tornava matriz de uma rede com aparente independência, pois cada nó da rede visualizava a si mesmo como o centro da malha. A estrondosa ampliação da malha da rede deixou o nó matriz primordial irreconhecível na própria rede que criou a partir de si. Mas as informações no mundo virtual transitam  em velocidade inconcebível e chegam ao Nó Primordial. Todos os nós multiplicavam o feedback, e assim toda a REDE se estendeu. Todos nós somos replicantes.
            Onde quer que você esteja já faz parte da rede. Todo o universo concreto e as suas abstrações vão assumindo novas dimensões: o tempo agora não cabe mais nos grãos de areia da ampulheta, no gaguejar do medidor analógico de trezentos e sessenta graus e no contador digital chega à saturação de todas as potências possíveis. O espaço apresenta uma falsa finitude e se confunde com o próprio tempo no horizonte de seus limites.
          Ainda assim, há e haverá sempre um novo nó. E os caminhos para se chegar a ele. E ele também é o centro do universo de sua periferia.
          As redes sociais constituem o cortiço virtual. E não há segredos entre os nós, ou não há segredo para nós! Mesmo que você não esteja "logado", os seus movimentos são medidos, desenhados, você é apenas um perfil, que está no mapa da rede, quando usa um celular, a sua conta bancária, uma fotográfica digital, ou seja, você agora é um cibercidadão e aceita passivamente essa condição (um rebanho homogêneo?). Tente perceber-se fora destas condições tecnológicas...tic...tac...tic...tac...tic...tac... você está muito cansado mas não pode desconectar, feche os olhos, inspire lentamente, expire suavemente...tic...tac...tic...tac...tic... imagine banhado pela "blue windows light"  ou pela "royal 'face' light...tic...tac...tic...tac...tic...tac...
Proooooonto! abra os olhos bem devagar, olhe pela janela, percebe o azul celeste? Você consegue afirmar com certeza se aquele mundo lá fora é real ou virtual. Ficou em dúvida?  Ótimo! Era isto mesmo que nós queremos. Que você esteja sempre em dúvida! Que esteja sempre visível. Não precisamos mais do seu CPF, do seu Registro de Identidade. Você precisa deles, afinal você é quem mais sente dúvidas sobre sua identidade, sua origem e seu destino.
      No cortiço virtual, todos sabem onde todos estão; você mesmo se anuncia com um barulho estrondoso, gesticula freneticamente. No cortiço virtual não existem segredos e mesmo que você se desloque para outro lugar, aquele espaço também será "nanofúndio" da malha. Não há segredos na rede.
#################################Texto concluído e postado pelo autor José Marcos Barreiros Alves, em 23/10/2012 às 22:23, Brasilia-DF.